domingo, agosto 05, 2012

Nossa melhor mistura!

Eu tive no último sábado (04/08) uma das manhãs mais interessantes da minha vida. Nunca tive o dom de ser uma observadora, o que me faz muitas vezes parecer meio fora do ar. Isso não me incomoda, não faz parte do meu jeito, mas confesso que nesse dia, as pessoas ao meu redor me fizeram perceber mais as coisas.


Peguei o Vitor para ir à pracinha e deixar o Rafa dormir um pouco. Fomos para a Praça da Encol. Ao chegar lá, notei que chamamos atenção. E não era porque tinha um bebê, pois naquela hora, a praça estava cheia de crianças. Não entendi bem e logo fui levar o Vitor para o balanço. Ele foi até lá caminhando, sem segurar minha mão. Antes de chegarmos ao brinquedo, um jovem pai me parou e perguntou quantos anos ele tinha. Falei, orgulhosa, que ele está prestes a fazer um aninho. Na hora, o pai ficou cabisbaixo e resmungou: “o meu (apontando para um carrinho que mais parecia uma nave, com uma babá ao lado) tem 11 meses e começou a engatinhar bem mesmo só ontem.” Eu fiquei meio sem graça e disse que cada bebê tem seu tempo e que logo logo o dele ia dar os primeiros passos. E pra finalizar ainda aconselhei a levar o bebê para a escolinha, que contribui muito para o desenvolvimento.

As pessoas continuavam nos olhando com um ar diferente que eu não tava conseguindo entender. Pude notar que a maioria era gente com grana e outros aspirantes, alguns metidos a besta. Como eu nunca tive problema em me adaptar a algum tipo de lugar e muito menos me fazer do que não sou, continuei curtindo essa experiência ótima que é estar com um filho numa pracinha. Então sentei em torno da areia do escorregador e o Vitor ficou ali brincando com algumas crianças e dividindo os brinquedos. E as pessoas espantadas como ele caminha bem, como ele é grande, como ele interage com os outros e também como ele estava se divertindo.

Ao meu lado, estava sentada uma mulher, com cabelos bem cacheados e a pele negra clara. Junto com ela, uma menininha loira, de olhos claros, que mais parecia uma boneca. Começamos a conversar e ela me comentou que tem um menino de 1 ano e 2 meses que ainda não caminhava (sim, sempre o mesmo assunto). E nisso, engatamos um papo. Eu notei que ela queria me perguntar alguma coisa e não sabia como, mas ela não se agüentou e logo disse, meio sem graça: “Ele é mesmo teu filho ou é adotado?”. Desde que decidi ter um filho com um homem negro sabia que um dia, isso poderia acontecer, era só uma questão de tempo. Então eu dei uma risada, passei a mão na cabeça do meu filho e disse cheia de alegria que sim, ele é meu filho sim. E que o pai dele é negro, por isso ele tem essa cor linda. Nessa hora, vi que todas as mães que estavam na minha volta meio que prestaram atenção no assunto. Acho que muitas delas estavam loucas para entender a nossa diferença de cor. E olha que o Vitor nem é tão negão! A moça que falava comigo deixa os filhos dela em casa para cuidar da filha dos patrões. Fiquei um pouco sem graça, mas disse que temos que batalhar por eles, não tem jeito mesmo.

Foi uma manhã engraçada. Dá pra notar que quem tem grana, não faz questão de mostrar e que, a maioria, é super simples. Agora o pior são os aspirantes, principalmente as mulheres, que querem se exibir a todo o momento. E no meio delas, lá estava eu. O principal troféu pra mim não é meu saldo bancário, a marca do meu carro, da minha bolsa, do meu celular. Mesmo se fosse ultrasuper positivo, o carro dos sonhos, a bolsa mais linda e o celular mais da hora, nada disso ganharia do prazer de ver meu filho ali, conquistando o espaço dele, chamando a atenção por fazer tantas coisas que, além de me encantar, também surpreendia os outros.

Eu não me ofendi com a pergunta da mulher, admirei ela por ter coragem de perguntar. Minha vontade era de ter falado mais. Meu filho é uma mistura de tanta coisa boa. Ele foi tão sonhado, feito com muito amor, esperado com carinho. Ele é criado sem frescuras e com muita atenção. Ele é espontâneo, ele fala com um olhar e tem uns cílios de babar. Ele tem o cabelo enrolado e o nariz um pouco achatado. O pai dele é negro, como um chocolate bem gostoso. A mãe, branquinha como um leite. Ele? É da cor de um Nescau, de um cajuzinho...é o nosso bombonzinho. O Vitor é da cor do futuro do Brasil.